sábado, 19 de março de 2011

EU KOSMINSKY



Escrevo apenas para me ver ou para re-experimentar sensações. Se trago essas histórias para cá, para a tela do computador, é pela simples necessidade de pensar de uma forma mais concreta. Talvez a pintura também me servisse, mas estou a tanto tempo distante, sem praticar e cansado das suas dificuldades que optei pela escrita, algo que faço sem compromisso e sem critérios e, principalmente, sem pretensões profissionais. O profissionalismo é ótimo, mas muito chato, por pouco não me mata a escultura e as aulas que tanto gostava de dar. Aqui, ao menos, há um prazer novo, por mais que corra o risco do ridículo.
Serei ridículo mas feliz, e como diz meu filho, “ponto”.
Vivi a eterna dicotomia dos Kislansky versus Kosminsky. Os ricos versos os pobres, os certos versos os errados. Muitas vezes me senti Kislansky, muitas vezes me senti Kosminsky. Algumas vezes consegui inverter a lógica, algumas quase a perdi. Flutuei entre meu pai e minha mãe ao sabor dos momentos da minha vida até chegar ao ponto de, finalmente, compreendê-los fora de mim. Herdei o nome Kislansky, mas me penso hoje como outro ser, não necessariamente certo ou errado, pois, evidentemente, sempre serei ambos. Mas vivi uma experiência angustiante, dividido por amor, interesses, desamores, como um pêndulo acompanhando os atritos entre meu pai e minha mãe, entre os Kislansky e os Kosminsky.
O gigantismo da família Kosminsky, são nove tios, dezenas de primos, tios avós, primos distantes e a miudeza dos Kislansky, apenas meu pai e uma prima, talvez faça das comparações algo desleal, pois será sempre mais fácil encontrar dificuldades no grupo mais numeroso. Os Kosminsky eram pródigos em atenções, afetos e problemas, enquanto ao Kislansky restou o lugar de pai provedor cujo sentido da vida era a certeza de que o único meio de colaborar com uma existência plena e digna para seus filhos era convencê-los da necessidade do sucesso financeiro. O histórico de meu pai o impeliu a isso e também os limites de cada ser humano, afinal somos apenas isso.
Se não aprendi com meu pai, a vida encarregou-se de deixar clara a sua parcela de razão.
Para minha sorte, apenas uma parcela. Essa experiência me deixou dividido, cindido ao meio e se, em certos momentos, consigo reunir as partes, dando à dimensão pecuniária sua devida proporção, o mais das vezes o conflito se apresenta sem que eu o perceba...
A veia artística só exacerbou o problema. Não consigo focar no dinheiro. Sem dúvida preciso e gosto dele mais do que admito e, como a maioria, passo muito mais tempo em sua busca do que havia planejado. Porém tenho conseguido uma façanha que admito custou e custa um bocado de esforço: meus projetos e trabalhos são muito ligados ao que sonho como artista e acredito como homem. Os resultados são limitados ao tamanho de minha capacidade e ao acaso das oportunidades. E assim cumpro meus dias no que diz respeito a essa equação entre a labuta pelo feijão e arroz, que alimenta esse corpo tão amado e maltratado, e essa outra fome deste ser abstrato - seria nossa alma? - e sem a qual ficamos igualmente desnutridos.

Um comentário:

Associação livre disse...

A "formiga só trabalha porque não sabe cantar". Pensei em fundar um clube para poucos com este nome.