quarta-feira, 23 de abril de 2008

A OBRA - por Enio Squeff e Gilberto Habib

“A obra de Israel Kislansky, independentemente de qualquer outra consideração, impõe-se pela solidez da sua estrutura: refiro-me ao equilíbrio, à força de sua figuração, que é uma presença constante e impositiva, mesmo na sensualidade de seus nus. Este o contraste, ou antes, a ambivalência de que se nutre sua obra: na força do bronze - ou da pedra - há, sempre, a inequívoca fluidez arredondada das formas.


Mas não é uma obra que celebra a sensualidade como tal. Na escultura de Kislansky, sobram sempre, além dos corpos, as inquirições das fisionomias graves. Aqui é o olhar quase triste, além é apenas e tão somente o peso da pergunta. Poder-se-ia, quem sabe, volver à lição neo-clássica do século passado, não fosse um pormenor: são bem de nosso tempo os corpos de suas mulheres, nos quais jamais se disfarçam os espartilhos das existências urbanas.


Em seu “eterno feminino” tão circunstanciado pela azáfama da vida das grandes cidades, a mulher não se descobre em ideais de sensualidade. Mais que isso, o que se respira nesses nus, é simplesmente o real, talvez, quem sabe, adulado, acarinhado pelas mãos do escultor - mas que jamais se fazem concessões em nome da sensualidade. Em Israel Kinslansy, a verdade faz-se bronze, pedra, e argila, sem disfarces - a não ser no que concerne à indisfarçável ternura do artista pelo objeto de sua paixão - que é a mulher, transmudada e reverenciada pela arte. ”


Ênio Squeff (pintor e jornalista)




“Um dos aspectos mais evidentes da obra de Israel Kislansky é seu interesse pela temática feminina de inspiração serena e contemplativa. Visão que sugere a suspensão no tempo e o distanciamento da voracidade dos problemas contemporâneos. Entretanto, olhando com maior atenção veremos que essas mulheres são também enigmáticas e se debruçam sobre mistérios sedimentados ao longo da história da arte.


A noção de antiguidade que traz consigo, a sugestão de permanência, ou a noção histórica que se associa à idéia de transformação, nos permite ainda hoje observar o feminino na arte, na somatória de suas múltiplas personificações. Entretanto, a simbologia representada através da figura feminina ao longo dos séculos distanciou-se de seu denso conteúdo. É sobre este distanciamento e da tentativa de reafirmação do belo feminino na arte, que trata a obra do escultor Israel Kislansky. Com suas mulheres de bronze em proporções monumentais, situadas entre o sagrado e o profano, o artista reinstaura o mito feminino num contexto tipicamente contemporâneo.”


Giberto Habib de Oliveira