Ao falarmos que nós, escultores
e ceramistas, trabalhamos com argila, a maior parte das pessoas
imaginam que utilizamos algum tipo de barro tirado simplesmente da
terra e mais provavelmente a beira dos rios ou córregos. Essa
imagem idílica sem dúvida é em parte verdade.
Existem argilas que são de fato trabalháveis in
natura e se encontram próximos aos rios. Mas a realidade é
que existem argilas em quase todas as partes do planeta e nas mais
diversas regiões com as mais diversas características geográficas.
Essas argilas são provenientes da decomposição
milenar de rochas e suas características refratarias e
plasticas, ou seja, a capacidade de suportar o calor e condição
de ser modelada, variam imensamente. Deste modo existem argilas que
são muito moldáveis, mas não suportam altas
temperaturas como, por exemplo, boa parte das argilas vermelhas, a
famosa terracota; e, por outro lado, as argilas brancas, ricas em
quartzo e caulim, que costumam ser muito refratárias, mas
pouco plásticas, ou seja, a princípio pouco favoráveis
a utilização, em estado puro, para confecção
de objetos.
Porém, o que via de regra se
utiliza para modelagem e cerâmica, e principalmente em larga
escala pela industria, é uma argila beneficiada, mais
conhecida como massa ou pasta cerâmica. Normalmente os artistas
e ceramistas costumam adquirir estas massas de fornecedores
especializados e raramente produzem eles próprios a sua
argila. Em Minas Gerais encontramos o escultor Bruno Amarante, um
raro exemplo de artista que produz sua própria massa,
desenvolvida segundo necessidades expressivas próprias e no
intuito de atender uma pequena clientela. Essa produção
semi artesanal possui características bem regionais, uma vez
que a argila base é mineira e, entre as suas fórmulas,
aparecem o minério de ferro.
A produção das massas é
realizada de modo bem simples, pois o artista dispõe de poucos
equipamentos. Inicialmente a argila base, que é recebida in
natura, é seca, triturada por um batedor e transportada
para um pequeno galpão. Nessas instalações
encontram-se os demais produtos: argilas, sílicas, chamotes,
feldspato, entre outros. Todos esses minerais são adquiridos
já beneficiados por mineradoras. São “farinhas” de
diversas granulometrias e cujas funções e porcentagem
fazem parte de um jogo cujo aprendizado é fruto de muita
experimentação.
Uma vez pesada e confeccionada a
fórmula, esses produtos são despejados em uma betoneira
onde é misturada e depois acrescida de água. No fim de
poucos minutos brotam de sua boca pedaços irregulares de
argila grossa. Toda essa massa é passada por uma maromba com
expele, por fim, a argila pronta, tal qual encontramos nos sacos
dentro das lojas de materiais cerâmicos.
Essas massas, diferentemente das
argilas naturais, são massas com grande variedade e
combinações entre cores, refratariedade e acabamentos.
São todas moldáveis, podem possuir características
de muita rusticidade ou serem extremamente finas e são
normalmente queimadas entre 800 e 1300 C. Existem também as
massas que são coloridas, ou seja, são acrescidas de
pigmento, porém a maior parte das argilas naturais com suas
combinações entre seus minérios compositivos,
gradiente de temperaturas e tipo de queima são os responsáveis
por uma imensa variedade de cores.
A princípio produzir uma massa
cerâmica parece se facilmente exeqüível, porém
encontrar um equilíbrio entre resistência ao calor,
plasticidade, cor, condição de ser moldada, torneada, e
mesmo esmaltada com regularidade de resultados, é um desafio
constante para os produtores destas argilas.
A argila “mineralizada” de Bruno
Amarante, acrescida em sua fórmula de minério de ferro,
é uma exemplo da riqueza de possibilidades que a natureza ainda oferece a artistas e artesãos brasileiros.