quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A SINAGOGA DA BAHIA






















O lugar de nossa infância é sempre mágico. A sinagoga da Bahia estava a 100 metros de casa. Naquele pequeno e estranho prédio funcionava a Escola Israelita, o movimento juvenil sionista Ihud Habonim e também a sinagoga. Digo estranho pq sua arquitetura era de fato inusitada: um anexo circular, um átrio na entrada, os mil espaços como mil gavetas. Em cada cômodo uma peça desse incrível quebra-cabeça que abrigou durante anos a vida judaica daquela cidade. É preciso dizer, embora não fosse necessário, pois quem narra nasceu em 1965, que vivi tempos modernos. E na Bahia. Ou seja, que minha vida era, antes de mais nada, de um brasileiro.
Dizer que era de um “assimilado” seria exagero, já que não me sentia um judeu que emigrou para outra comunidade. Eu era, como os outros colegas da escola israelita, judeu, brasileiro, baiano, menino, uma mistura e simultaneidade que, sinceramente, nenhum ruído apresentava. Meus primeiros e poucos alertas sobre um judaísmo que me apartavam dos outros colegas baianos apareceram a partir dos 10 anos, já no Colégio 2 de Julho, fora do núcleo judaico. E, curiosamente, sempre a título de elogios a nossa tradição e a suposta inteligência e dedicação aos estudos (certamente a regra existiu para que eu, e alguns colegas, fossemos a exceção). Tive de aguardar meus 16 anos para começar a me interessar por movimentos estudantis, conhecer colegas de esquerda e ouvir então as primeiras queixas sobre Israel e supostas ações sionistas terroristas. Do mais, trago comigo uma boa e serena sensação de ser judeu.

Quando pequeno, é verdade, havia um amigo de meu irmão mais velho, uma espécie de herói secundário, a infância está repleta desses heróis, que me chamava aos berros: “ô judeeeu!”. Achava ótimo e nos divertíamos. Era assim.

Um comentário:

Tácito Fernandes disse...

Navegar por seu blog foi uma experiência fascinante, foi ficar em suspenso.