ISRAEL KISLANSKY
ESCULTURAS PARA SEREM ESCULPIDAS PELO OLHAR
kislansky é um judeu baiano.
ou um baiano judeu.
ou nem uma coisa nem outra.
também é um brasileiro com cara de europeu. ou não. ou um europeu com cara de brasileiro.
(afinal de contas, qual é a cara do brasileiro?)
(pode ter a cara de kislansky, brasileiro de corpo e alma.)
há muito tempo, kislansky tomou a si a mesma tarefa divina
(mas sem a intermediação da costela)
de transformar barros em seres humanos homens e mulheres
à imagem e semelhança de deus brasileiro
e baiano e multifacial e multicorporal e multirracial
e de tantos e tantos transformares
ele transformou o barro em gente
e gente em bronze
e kislansky apregoava caladamente que ali estavam suas criações
aquelas, de antes, se apresentavam na íntegra, figuradas, e diziam e continuam dizendo que são aquilo que são
naquele tempo, kislansky era objetivo,
plasticamente objetivo,
poeticamente objetivo,
nas expressões, nos gestos que suas mãos moldavam e registravam
aqueles homens eram solidamente ternos, leves, sensuais
aquelas mulheres eram solidamente ternas, leves, sensuais
aquelas figuras humanas continuavam a ser
em frente dos olhares que as perscrutavam.
ternas, leves, sensuais.
elas diziam a que vieram
elas eram aquilo que diziam ser
agora, kislansky abandonou seu ar divino.
ele pode ter dito:
- deus que se dane em mim. eu que me dane em deus!
e então foi novamente ao barro e criou figuras
figuras matizadas, coloridas
figuras colorindo-se
agora, são quaisquer figuras
lembram e remetem para humanas figuras
à espera de serem recriadas pelos olhos dos transeuntes.
as novas figuras de kislansky não existem nelas mesmas
elas existem e querem existir na emoção de cada olhar emocionante
e emocionado.
elas insistem em existir na poesia que deixam escorrer
e encontra um olhar atento e sensível
elas são criaturas em criação
e permitem serem recriadas pelos olhos
e quando as vemos,
em cada tempo seguinte,
temos a certeza de que não são mais as mesmas
agora, as criaturas são e estão sempre à espera e diante de um criador
não são mais criaturas de kislansky
ele criou-as livrearbitrariamente
e, como melhor criador ainda, despossuiu-se delas
elas são propriedades de quem as vê e as recria
e serão sempre recriaturas diante de recriadores
agora, kislansky se despiu de sua divindade
e a oferece às pessoas para que elas,
divinamente,
passem a criar, a possuir e a despossuir aquelas poéticas figuras
que se esfumaçam e se concretizam
e se esfumaçam e se concretizam
e se esfumaçam e se concretizam
diante de cada novo olhar
e então,
transcendentalmente,
desmisteriosamente,
poeticamente,
figuras
seres
seres humanos, talvez,
criaturas, sim,
enigmas que se propõem
devidamente recriados,
caminham para onde...
desfilam diante de kislansky,
o criador
fernado rios,
são paulo, agosto, 2011.
são paulo, agosto, 2011.
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